Divina de fátima dos Santos

Doutora em Psicologia Clínica

Roda de Conversa: Longevidade e Velhice

Por: Divina de Fátima dos Santos;
Sonia Fuentes

O Conselho Regional de Psicologia por meio da sua Subsede no Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo em parceria com a UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba – em São José dos Campos promoveu no dia 29.03.2012 a Roda de Conversa sobre a temática Longevidade e Velhice, com o objetivo de sensibilizar a sociedade para os anos alargados de nossa velhice.

Esta atividade objetivou refletir sobre o assunto com psicólogos e outros profissionais que atuam na área, de modo a falar um pouco das suas experiências e, dessa forma, estimular outros profissionais a prepararem-se melhor no exercício do trabalho com idosos, o que exige qualificação, consciência da responsabilidade e respeito às necessidades do público “envelhescente”.

O número de idosos vem crescendo e, com o aumento da longevidade, cresce também a necessidade de que mais profissionais estejam preparados para atendê-los e dar suporte ao público idoso em todas as suas demandas.

Com um auditório lotado e bastante interessado no tema, as três palestrantes da noite falaram um pouco das suas experiências no trabalho com idosos. Entre os inscritos para o evento estavam estudantes do curso de especialização em Gerontologia oferecida pela própria Universidade, assim como psicólogos, assistentes sociais, pessoas da comunidade e, também, alguns idosos. Foi uma conversa repleta de informações e novidades, com os assuntos versando sobre os pontos descritos a seguir.

O crescimento do número dos velhos no mundo e a forma com que o mundo está envelhecendo são informações que emanam das estatísticas existentes. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), hoje o Brasil chega quase a 20 milhões de idosos, a projeção é a de que em 2050 teremos aproximadamente 64 milhões. Entre os idosos acima de 90 anos, no ano de 2000 tínhamos 261mil brasileiros; em 2010 esta porcentagem saltou para 75% e o número foi para 449 mil idosos. E existem algumas pesquisas e notícias que apontam a possibilidade de se chegar até a idade de 150 anos no futuro (encarte Jornal Valor –Ano 12 –N 575, de 4 de Novembro de 2011).

Mas será que vale a pena viver tanto? Quais as consequências desta empreitada? Não queremos só prolongar a vida, mas também melhorar a saúde de cada um. Nunca se falou tanto em manter-se jovem e bem cuidado como neste século. Há gostos para tudo e para todos, e também para os diferentes bolsos. Você poderá bancar as 150 pílulas que a Glória Maria consome diariamente para manter-se jovem? Quais seriam as consequências imediatas de viver mais de cem anos?

No que se refere ao papel, às ações e aos trabalhos possíveis do psicogerontólogo, foi traçado um painel histórico do envolvimento da Psicologia com a causa do envelhecimento desde Freud, passando por seus seguidores , Eric Erickson e Jung, até  alguns dos profissionais e pesquisadores atuais como Birman, Goldfarb e Messy.

Quais os campos, ações e locais, onde estudantes voltados ao estudo da Gerontologia podem atuar? Alguns dos novos desafios são apresentados a seguir: criar projetos, ações e oficinas que visem o bem-estar não só físico, mas também social e psicológico para o idoso; criar consultorias para orientar trabalhos para idosos nas Instituições de Longa Permanência; escrever manuais, jornais e notícias voltadas para esta parcela etária; dar aulas de graduação na formação de gerontólogos, em cursos de especialização, comunidades, centros de referências e universidades da maturidade. São, portanto, muitos os campos de atuação profissional e com certeza outros virão.

Divina de Fátima dos Santos, Psicóloga e Mestre em Gerontologia, abordou na noite os assuntos relacionados à família contemporânea e à longevidade. E propôs uma pergunta: Que idoso é este de hoje no ano de 2012? Diante da complexidade em que se encontram as famílias contemporâneas, é preciso também saber que família é esta. É necessário contextualizar, antes de atuar, para abordar melhor a importância do trabalho intergeracional e também do apoio familiar e da melhoria da autoimagem, como consequência destas intervenções.

A Psicóloga e Mestre em Gerontologia, Mariângela Faggionato, discursou sobre seu trabalho com os idosos por meio de oficinas ambientais com o objetivo de preservar a área do Forjo na APA (Área de Proteção Ambiental), na Serra da Mantiqueira, em Campos do Jordão. Este foi um trabalho muito interessante e que resultou num livro de nome “Paralelos de vida”.

Ao perceber o interesse do público em conhecer as experiências em relação ao tema do envelhecimento, a Doutoranda em Psicologia e Mestre em Gerontologia da PUC-SP, Sonia Fuentes, contou sobre sua entrada no campo da Gerontologia, descrevendo a sua trajetória, os percalços e o envolvimento crescente com as questões do envelhecimento entrelaçadas com seus interesses pessoais. Abordou a sua tese de mestrado intitulada “As várias faces do cuidar de si” e contou como foi entrevistar dez profissionais “top” de linha da área do envelhecimento; apesar destes profissionais conhecerem a fundo a Gerontologia, ficou claro que também têm dificuldades em cumprir os “cuidados de si”, relacionados às regras de bem viver propagadas pela mídia que se direcionam na maioria ao cuidar do seu corpo físico. No entanto, em relação à liberdade de escolha de como, onde e quando se cuidar, considerou que estes profissionais conseguem seguir seu livre arbítrio e cuidam de si mesmos de acordo com seus limites e interesses. Não há uma regra de bem viver: pensar isto, seria o mesmo que acreditar que existe uma só velhice e um só modo de envelhecer. É preciso ampliar  nosso olhar e acolher toda a diversidade que se apresenta no envelhecimento.

Ao final do encontro, muitos elogios foram feitos tanto as palestrantes que demonstraram total domínio e grande conhecimento do tema em pauta, quanto à iniciativa do CRP em promover tal debate.

As palestrantes agradeceram à UNIVAP e ao CRP-Vale pela confiança e pela oportunidade concedida em expor seus conhecimentos, bem como de refletir sobre esse tão necessário campo de atuação tanto para os psicólogos quanto para os demais profissionais e sobre a necessidade de especializar-se nas questões do envelhecimento humano.

Psicóloga Divina

Doutora em Psicologia Clínica

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